Foto: Luiz Pereira Neto/Prefeitura de Limoeiro

No período de 13 a 16 de janeiro, Limoeiro está vivenciando o Festival Orixalidades. O evento, que acontece na área externa da Faculdade de Ciências Aplicadas de Limoeiro (FACAL), tem mostrado a contribuição das matrizes africanas na formação da sociedade brasileira. Aberta ao público, a programação reúne diversos segmentos da cultura afro-brasileira, mostra culinária, momentos ecumênicos e palestras, além da oferta de serviços gratuitos dentro da Feira de Saúde Janeiro Branco. O evento conta com o incentivo da Lei Aldir Blanc e o apoio da Prefeitura Municipal de Limoeiro.

O Festival Orixalidades tem como foco a valorização dos saberes notórios dos terreiros. “Vivenciamos um Candomblé público para que as pessoas possam conhecer o que é aquilo que praticamos dentro das nossas Casas de Candomblé e Casas de Axé”, destacou o realizador do evento, Pai Àlábíyí, do terreiro Egbé Axé Limoeiro. “Nossa luta não é em vão. Por mais que tentem calar a nossa voz, continuaremos, resistiremos, seremos luta, somos o legado dos nossos ancestrais, somos empoderamento”, completou.

Ainda dentro da programação, acontece o Prêmio Axé Fàdáká, o Xirê Público, o Seminário Águas de Oxalá, o Recital de Poesias de Terreiro, a Exposição de Música Sacra de Terreiros e o Águas de Oxalá de Limoeiro. “É um momento para discutirmos e refletirmos sobre as contribuições das matrizes africanas na formação da sociedade brasileira. E quando falo matrizes africanas, não me reduzo, necessariamente, à religião. É mais do que isso. É antropologia, história, pedagogia, filosofia, música, vestimenta, ética”, ressaltou Pai Àlábíyí.

Foto: Thiago Cavalcante/Prefeitura de Limoeiro

A programação valoriza as tradições locais e, ao mesmo tempo, abre espaço para a troca de experiências com grupos regionais e internacionais. Além disso, amplia o debate sobre o respeito. “O seminário envolve a discussão sobre a importância de colocarmos em pauta o preconceito, o racismo e a intolerância religiosa. Coloca em pauta algo que deve ser discutido diariamente. Não basta que a gente fale do racismo, a gente precisa ser antirracista”, comentou a secretária de Cultura, Turismo e Lazer de Limoeiro, Dolores Carmen.

Uma das atrações culturais é o músico e artista plástico francês Franck Soubé, integrante da banda OZABUMBA e seguidor das religiões de matrizes africanas desde o ano de 1996. “Eu era baterista de formação e fiquei encantado com o som dos atabaques, os tambores sagrados do Candomblé. Eles revolucionaram a minha vida. Comecei a estudar, percorri toda a França em busca de mestres. E eles me levaram até Salvador, na Bahia, onde conheci, através do povo negro, a fonte sagrada das músicas do Candomblé. Também já estive em uma Casa de Axé em São Paulo”, relata.

O artista francês aproveitou o momento para deixar uma mensagem especial para os limoeirenses. “Já estive na França, Espanha, Portugal, Itália, Suíça e no Benin. Estou em Limoeiro pela primeira vez. É um grande prazer conhecer o carinho deste povo acolhedor, a força da natureza e a tranquilidade desta cidade. Vejo aqui o nascimento de um projeto que promete ser forte e ter muitos anos de vida. É bastante simbólico que ele seja realizado numa faculdade, um lugar de saberes”, completa Baba Franck, como é popularmente conhecido o músico.

Foto: Luís Francisco Prates/Prefeitura de Limoeiro

Vindo da cidade de Avaré, interior do Estado de São Paulo, e pela primeira vez acompanhando a cultura Afro no Nordeste, o advogado Juliano Amaral avalia que o festival plantou uma semente. “Tem sido importante essa troca de experiências, criando raízes que vão virar uma grande árvore com frutos maravilhosos”, pontua. Ao lamentar o preconceito, o qual avalia como “ainda muito forte”, o advogado entende que eventos como o realizado em Limoeiro provam que a religiosidade é fator cultural para o desenvolvimento do país, passando por vários eixos.

As religiões afro-brasileiras têm origem na cultura dos povos da África trazidos para o Brasil como escravizados entre os séculos XVI e XIX. Com o passar dos séculos, costumes originários do continente africano resistiram às condições desumanas cruelmente impostas pelo regime escravocrata e foram sincretizados com elementos do catolicismo, do kardecismo e das religiões indígenas. De acordo com o instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 0,3% da população brasileira é adepta das religiões de matrizes africanas.

A programação completa do Festival Orixalidades está sendo transmitida pela É Notícia Web TV. A página do terreiro Egbé Axé Limoeiro pode ser acessada neste link.